Angelita Habr-Gama, a Medalha Bigelow e a Ilha do Marajó
Reconhecimento para uma carreira de mais de 60 anos na medicina, a médica, natural da Ilha do Marajó, no Estado do Pará fez jus após enfrentar diversos desafios para se destacar na profissão de sua paixão (a medicina) finalmente foi reconhecida como uma das maiores cirurgiãs do mundo.
A agora renomada médica Angelita Habr-Gama, especialista em cirurgia do intestino, galgou um feito inédito tornou-se a primeira mulher no mundo a receber a medalha Bigelow da Sociedade de Cirurgia de Boston, uma homenagem em forma de reconhecimento valiosíssimo de notáveis contribuições voltadas para o progresso científico, progresso esse associado com a evolução do ensino da cirurgia.
A médica por força do seu amor pela profissão se manteve firme e forte desde o início de sua jornada, diante da difícil decisão de cursar medicina contra a vontade do pai, que preferia vê-la formada professora do ensino médio. Ao invés disso, a filha que se negou ser professora se qualificou para cursar à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e lá a já estudante de medicina concluiu a sua graduação tendo que superar a desconfiança de alguns dos seus professores mediante a sua iniciativa de se especializar em cirurgiã. No ano de 1957, após ter demonstrado competência para a especialização escolhida, se viu de repente representando o papel da primeira mulher a fazer residência em cirurgia no Hospital das Clínicas da USP.
O feito da médica Angelita alcançou projeção internacional pelo fato de, após a residência em cirurgia geral, iniciou especialização em cirurgia do intestino no Hospital St. Marks, em Londres. Enfrentou e superou algumas dificuldades para cursar a referida especialização tão somente por ser mulher, mas contra tudo e contra todos, Angelita se tornou a primeira mulher admitida na instituição em 1962.
A médica brilhou no transcorrer de sua carreira e fez diversas conquistas, sendo professora emérita da FMUSP, membro de várias sociedades médicas e reconhecida cientista na pesquisa de tratamento do câncer colorretal. No entanto, seu feito mais notável foi o desenvolvimento do protocolo “Watch and Wait” (Observar e Esperar), uma abordagem revolucionária para o tratamento do câncer de reto.
Angelita propôs o seu protocolo, que se resume na utilização de quimioterapia e radioterapia para tratar o câncer de reto, sem a necessidade imediata de cirurgia. O método, inicialmente contestado pela comunidade científica internacional, revelou-se eficaz ao permitir a observação da resposta do paciente à terapia, evitando cirurgias desnecessárias e preservando a qualidade de vida dos doentes.
O prêmio medalha Bigelow, concedido pela Sociedade de Cirurgia de Boston, é um reconhecimento internacional à pesquisa inovadora de Angelita. Em uma cerimônia realizada em Boston no último dia 6, ela se tornou a primeira mulher e profissional da América Latina a receber essa distinção, que em mais de cem anos de existência foi concedida a apenas 34 cirurgiões em todo o mundo.
Para Angelita, a premiação supera toda e qualquer perspectiva do individualismo, pois representa uma conquista para o Brasil, divulgação para o Marajó e um ponto de valorização para todas as mulheres convictas em suas profissões. E ela disse mais: este prêmio estimulará o nosso Brasil se for considerada a importância do tratamento do câncer de reto, e o valor da educação e do ensino. A médica continua atendendo pacientes e realizando cirurgias diariamente no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, onde mantém um consultório com seu esposo, o também cirurgião Joaquim Gama.
A conquista de Angelita Habr-Gama querendo ou não, se sobressai como um ponto altíssimo no traçado da história da cirurgia e servirá como exemplo inspirador para as futuras gerações de que a perseverança sempre vence.
11/2023