Um colóquio entre o aprendiz e o mestre

Uma pessoa qualquer que escreva uma poesia, ela pode ser chamada de poeta? Não pode e não deve receber uma denominação de poeta. Ela ainda está longe de ser o que a chamam ... ...
Um colóquio entre o aprendez e o mestre 1
O aprendiz que está verdadeiramente interessado em aprender e aprofundar-se no tema em estudo, geralmente ele se desvia do foco da matéria em debate para descobrir ou se familiarizar com conhecimentos mais complexos sobre o que ele está aprendendo, pois assim o que aprende, aprende mais e o que ensina, ensina mais, pois ensinar é uma eterna escola de aprendizado para os que amam o que ensinam. Foi assim que surgiu este colóquio entre o aprendiz e o mestre.
Assunto: poeta de várzea. O aprendiz no afã de conhecimentos mais profundos, perguntou ao mestre:
— Mestre uma pessoa qualquer que escreve uma poesia, ela pode ser chamada de poeta?
— Não pode e não deve receber a denominação de poeta. Ela ainda está longe de ser o que a chamam erroneamente: poeta. Vamos utilizar como parâmetro o futebol. O sujeito que joga uma bola com certa habilidade, não é um jogador de futebol, ele é um apreciador da bola e se exercita praticando com ela.
— Ah! Entendi! O camarada só será um poeta se a poesia dele receber a apreciação e elogios de outros poetas! É isto?
— Não! A aprovação do colega do apreciador de bola, que joga no mesmo campo com ele com a mesma satisfação e necessidade de se exercitar, não transformará o seu companheiro de pelada em um jogador de futebol.
—Ah! Agora eu acho que compreendi! O indivíduo que escreveu uma poesia que não é considerada muito boa, só será reconhecido como poeta quando participar de concursos de poesia e conseguir ser premiado em primeiro lugar. Mostrando assim que ele é o melhor entre todos que participaram! Acertei?
— Errou! Mesmo depois de premiado, ele não deve ostentar as glórias que um verdadeiro poeta merece. Na maioria dos concursos, principalmente os que oferecem prêmios risíveis, valores insignificantes, concursos promovidos por instituições caça níqueis, com a intenção de ganhar um dinheirinho e devolver uma pequena parcela do dinheiro como premiação para o primeiro, segundo e terceiro lugar, classificações desmerecidas , para três poesias não validadas, até porque a intenção dos referidos concursos não era escolher poesias de verdade, pois não existem as figuras oficiais dos promotores, dos apoiadores financeiros e culturais de espécie alguma.
E geralmente a metade dos participantes desses concursos, não foram eles que escreveram as poesias, mas sim, alguém que não sabe escrever poesia, mas se acha inteligentíssimo com capacidade de enganar os organizadores do concurso, que não descobrem que ele é desonesto e trambiqueiro, e utiliza os nomes de outras pessoas para aumentar a sua chance de ser premiado até mais de uma vez para embolsar o cobiçado prêmio mixuruca.
Os jurados apenas arrogam para eles o entendimento da poesia, mas coitados deles! Não entendem nada! Eles se congregam sem a menor convicção para a escolha de determinada poesia como a melhor entre as piores, mas não sabem apontar as qualidades e os defeitos! Conseguem abrir as bocas e dizerem sem emoção “gostamos mais desta, as outros nós não entendemos!” é idêntico ao campeonato de futebol praticado entre os bairros. O time campeão não joga nada perde de goleada para o último colocado da série C; e o jogador considerado craque do campeonato não consegue aprovação para jogar em nenhum dos piores entre os times das três divisões!
─ Ah! Mas agora eu acho que vou chegar perto do que é um poeta ou uma poetisa! O indivíduo sem nenhuma preparação poética, daquele que em suas veias não circulam inspirações para a poesia, ele viu outros iguais a ele escrevendo poesias, então ele se achou no direito de escrever do jeito que ele fala sobre um tema qualquer, contando uma história sobre qualquer coisa (alguns diante do modo como eles escrevem utilizam palavras ou frases sem nexo, até alegam para eles a liberdade poética), sem seguir o formato correto ou até mesmo o princípio do estado de espírito que grita, clama e anseia que o sentimento poético seja transformado em poesia, para que o mundo se encante e se apaixone por ela. A liberdade poética utiliza o toque de uma varinha mágica e transforma o texto escrito em uma poesia. Certo?
─ Não! Mas você explicou muito bem, sobre esse tipo de coisa nenhuma que escrevem, apresentam e mostram para os que não entendem o que estão lendo e os leitores acreditam por indução que é uma poesia. Qualquer besteira que surge nas cabeças deles, eles acreditam que é poesia e se intitulam poetas.
Os jogadores de pelada, jogam com bolas de qualquer estilo, em campos precários, irregulares, cheios de buracos, descalços, sem camisas, eles acreditam que jogam bola e se intitulam jogadores de futebol. Mas não estão fazendo nenhuma coisa e nem outra, eles apenas estão batendo uma pelada.
— Huuummm! Está difícil, mas estou conseguindo visualizar em que condições o cidadão poderá ser chamado de poeta! Quando ele finalmente tira o dinheiro do bolso dele e lança na feira do livro, um livro de poesia! Atingi no alvo grande mestre?
— Errou novamente! Não importa se ele lançou ou deixou de lançar um livro ou um livrete de poesia, mesmo assim ele não será um poeta! Bom! Quer dizer, ele poderá ser visto como poeta, mas somente por pessoas iguais a ele, desprovidas de sentimentos e da natureza poética! A mesma coisa acontecerá com o craque do campeonato de futebol dos bairros, se ele conseguir a façanha de jogar todo equipado em um time profissional, o uniforme do time não vai fazer com que ele se torne um atleta com nível suficiente para ser contratado como jogador profissional de futebol! Ele permanecerá um amante do futebol!
— Mas mestre! Então neste caso este apreciador da poesia deve receber que denominação?
— O apreciador de poesia, que não sabe escrever uma poesia e que escreve heresias. Ele é na poesia o que o jogador da periferia é no futebol. Craques iguais ao amante da bola existem de montões! POETA DE VÁRZEA se manifesta aos magotes por aí! É isso que eles são: poetas de várzea.

07/ 2009

Edvan Brandão